04 janeiro 2011

Conversas com Deus e outros momentos Ébrios!

A Derradeira Viagem!

Ficava para trás a invicta quando o taxista ligou o auto-rádio do seu bólide. Esperava-o uma longa viagem até à capital. Mas a lonjura da corrida seria claramente compensatória. Talvez por isso não conseguisse esconder um leve sorriso na face.
- Senhor, que caminhos são estes por onde me levas? – Sussurrou o passageiro no banco de trás.
- Então caro amigo, é a auto-estrada do norte. Mas que outro caminho poderia ser para o levar a Lisboa. - Retorquiu espantado o motorista.
Mas a resposta pareceu não satisfazer.
 - Senhor, qual será o meu destino?
 - Lisboa, ora essa! Não foi o que me solicitou?
O estranho homem parecia indiferente às palavras do taxista. Parecia abstraído como se pregasse ou rezasse. O taxista pensou em ignorá-lo mas a ladainha insistente começava incomodá-lo. Aumentou o volume do rádio, o destino ainda se afigurava longínquo.
 - Sei que tudo fiz para não te reconhecer no meu seio mas, a vida sem ti é demasiadamente vazia. Desse modo prefiro ter-te a duvidar de ti, acreditar nos teus ensinamentos e guiar-me por eles. Ainda que suspeite que estão viciados pelas mãos dos homens, moldados a imagem deles para servir outros propósitos que não aqueles que por ti escreveram. Bem sei que exigias mais de mim do que te dei. Humildemente reclamarei meu perdao junto de ti.
O taxista fez um derradeiro esforço para interpelar o viajante mas sem sucesso. Julgou-o esquizofrénico dialogando com uma qualquer personagem do seu imaginário sentada a seu lado. Apesar de tudo o homem parecia inofensivo pelo que a viagem continuou sem percalços.
- Nesta hora que me confesso e entrego a ti rogo-te que encontre a paz que sempre procurei e nesse obrigado antecipado te confesso todo o meu amor e dedicação.
Que criatura demente, pensou o condutor.
- Pare aí.
- Pare aí! – Vociferou o homem quando o táxi se aproximava do fim de um viaduto.
- Fico aqui.
O taxista não se conteve a lançar uma provocação.
- Oh amigo estou-lhe a fazer por metade do preço porque a corrida para dois é mais cara.
Logrou, rapidamente, em obter resposta.
- Quem me acompanha pode nunca te dar o que mereces mas nunca te vai faltar com o que precisas.
Dito isto, o homem balançou o seu corpo sobre o corrimão lançando-se no abismo em direcção ao seu destino final.

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