14 fevereiro 2011

Dia de São Valentim


Encurta-se o mês! Empolgados, os amantes excedem-se nas caricias e procuram com frenesi encontrar o presente certo para a cara-metade. São os adolescentes que, sem pudor, se beijam nos bancos de jardim, os jovens noivos que se declaram presenteando as amadas com uma bela jóia, mas também os recém-casados celebrando a felicidade e os maduros casais que partilham cumplicidade e afecto. Até as crianças, na mais pura meiguice, entregam lembranças a quem gostam. Foi assim que recebi o meu primeiro presentinho de S. Valentim. A menina das sardas da carteira da frente surpreendeu-me no átrio da escola primária durante o recreio com aquela medalha. Uma menina em prata que deveria ser colocada pendendo no meu pescoço. Guardei a jóia e usei-a cada minuto da minha vida. Sem uma palavra, sem algum gesto ou olhar maldoso, vi-a fazer-se mulher à medida que, sempre juntos, fomos crescendo, adolescentes, jovens, adultos, colegas nos estudos, colegas no trabalho. Sem um beijo, sem um toque, sem uma insinuação vi nossos corpos ganharem estatura e estrutura cada dia. Se a desejei? Sim! Sempre a desejei. Do mais platónico sentimento ao mais despudorado pensamento sempre a cobicei. Mas quis o destino que nossos caminhos de tão perto que se trilhavam permanecessem paralelos e nunca se encontrassem. Julguei-me não correspondido na minha devoção e aceitei a minha sorte fazendo-me casto.
 Vesti fato e gravata para ver o meu melhor amigo casar. Recordo-me assim vestido quando a conheci no primeiro de aulas, ridiculamente destoando dos outros gaiatos de jeans e sapatilhas. De alguma forma surpreendi-me por não figurar do lado do noivo. Preferi confiar no seu inegável bom senso na escolha do padrinho a atormentar-me de ciúme. Mas tormentos eram do que a minha alma transbordava.
A menina de sardas era, talvez, a mais bela noiva a quem aquela igreja abrira portas. Segui o belo cortejo com o olhar até o pai a entregar ao noivo no altar. A lindíssima silhueta resplandecia nas vestes angelicais primorosamente escolhidas. Mas apesar de permanecer discreto era impossível não reparar no menino de prata que destoava do belo cordão de ouro que lhe ornamentava o pescoço. Segurando a minha medalha entre o polegar e o indicador hesitei em anunciar ao mundo os meus sentimentos. Ao invés, olhei uma estatueta ao acaso e reformulei os meus votos de castidade a S. Valentim. Jamais arruinaria o casamento do meu melhor amigo de semelhante forma.





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